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O adolescente em questão

Artigo do mês de agosto da psicóloga Lélia Cristina de Melo

02
Set
2019

No Brasil, estima-se que 20% da população sejam adolescentes. O processo de “adolescer” supõe alterações bio-psico-sociais, é uma fase de transições marcada por indefinições, insegurança, momentos de reclusão e necessidade de pertencer a um grupo.

A partir dos 14 anos aproximadamente, ele já alcançou a fase de inteligência abstrata (período intelectual formal, segundo Piaget), como a do adulto, sendo capaz de compreender a realidade nos seus diversos aspectos, porém, não possui ainda a maturidade que advém da experiência, necessitando orientações e acompanhamento por parte dos pais e educadores. 

Eles são idealistas e tendem a fazer tudo sem medida, seus sentimentos são polarizados: amam e/ou odeiam e lutam para tornarem-se independentes, por isso gostam de quebrar regras e contrariar, para legitimar o próprio eu (fase de construção psíquica mais consciente).

Reduzem o tempo de convivência na família, o que é normal para a idade, pois eles precisam se conhecer melhor e ter os próprios parâmetros sobre a realidade.

Apresentam uma vitalidade sui gêneris, querem mudar o mundo e re-conceituá-lo, embora careçam de maturidade para fazê-lo. Possuem ideias criativas e podem ter elevado senso de justiça, sendo um momento propício para o diálogo e as discussões sobre os valores vitais com os pais e os adultos idôneos do seu entorno.

A adolescência é marcada por uma constante procura da identidade pessoal. Eles desejam encontrar um eu seguro, único, e o conseguem à medida que se aproximam da juventude adulta, desde que bem orientados nas etapas anteriores. 

As inesperadas mudanças de humor são constantes, muitas vezes eles próprios se desconhecem. Exploram vários aspectos de sua personalidade experimentando sentimentos, pensamentos e novas condutas. Nesta fase, crescem as tensões entre razão e emoção, porque são inteligentes e capazes de formular julgamentos, mas são também altamente emotivos.

As crises nesta etapa são potencializadas quando há muitos e/ou graves conflitos familiares, afetividade reduzida, ausência de seguros direcionamentos, apelo consumista, ausência de formação moral, inadequado direcionamento da sexualidade, excessiva busca de prazer e uso de substâncias químicas bem como condutas anti-sociais.

O adolescente é uma pessoa vulnerável; para evitar que ele se desvie, é fundamental a estrutura familiar e o auxílio afetivo (presença, reconhecimento de suas qualidades e crédito às suas capacidades) que o leve a conhecer-se e respeitar-se, bem como uma sadia educação emocional associada a muitas conversas com adultos idôneos. Nas conversas, é necessário concordar com ele quando emite opiniões corretas e razoáveis, não resistindo implacavelmente aos seus posicionamentos. A comunicação deve ser maximamente tranquila, mesmo quando há controvérsias. Ele precisa dispor sempre de um canal aberto para se expor.  

É preciso ampliar sua liberdade à medida que cresce sua responsabilidade, para que se afirme no mundo exterior com segurança, portanto, enaltecer suas fortalezas, dar-lhe responsabilidades crescentes, estar sempre por perto, apresentar-lhe as verdades, aceitar seus resquícios de imaturidade, bem como educar nas virtudes essenciais ao ajuste social e ao bem estar pessoal. 

Os pais e educadores devem estimular o interesse por atividades construtivas: arte, esportes, leitura, música, atividades filantrópicas, etc. – pois esta é uma fase de grande vigor. É fundamental propor-lhe uma escala de valores para que não se sinta vulnerável na hora de decidir entre o bem e o mal. Neste campo, auxiliá-lo a ter um projeto de vida, um projeto grande e fundamental, que dure até o fim e que vai norteá-lo e evitar que se aborreça com a vida ou que se desvie da rota. 

Em casa, que não haja temas proibidos. É na família que se aprende a dizer não ao impróprio, ao perigoso e ao duvidoso.

Resguardar cada idade desta fase de acordo com a sua correlata maturidade, cuidando para não atropelar a biologia e não permitir que ingresse precocemente em vivências adultas. Em casa, é preponderante que ele tenha deveres e os cumpra com regularidade, afinal, a casa não é um hotel, é uma pequena empresa em que todos se beneficiam e, portanto, todos devem contribuir para o seu êxito. Somente estudar é pouco (muitos pais exigem apenas esta tarefa), a vida inclui também outras dimensões.

Um adolescente que vive numa família que pratica uma religião de sólidos fundamentos morais, onde há alegria e demonstrações de afeto, cresce com auto-confiança, com sentimentos de esperança e dificilmente se sentirá desamparado, afinal, os pais não dão tudo, não sabem tudo, não protegem em tudo, mas o seu Deus sim.  
 

 

Lélia Cristina de Melo
Psicóloga clínica e Orientadora familiar – CRP: 08-02909
Rua Recife, 183 – Cabral
(41) 3352-2163 (41) 99925-0926
https://www.instagram.com/leliapsicoterapia/
*Confira as lives sobre temas de comportamento, psicologia e educação todas as quintas-feiras, às 21h no perfil da Lélia no Instagram

 

 

 

Imagens: freepik.com

 

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